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A Ilusão da Escola Ideal: Como Enfrentar os Desafios Diários

Depois de uma semana exaustiva e cheia de desafios na escola PEI de ensino médio onde trabalho, na cidade de São Paulo, chegou o fim do expediente. Ocupo o cargo de CGPG (Coordenador de Gestão Pedagógica Geral), e já estava com a mente voltada para os compromissos do fim de semana. Foi então que uma colega se aproximou para desabafar. Confesso que naquele momento minha cabeça já estava longe, mas ela começou a falar sobre as dificuldades que vinha enfrentando no exercício de suas funções. Perguntou-me: “O que você acha que podemos fazer para melhorar a escola?” E, em seguida, indagou: “O que você faria para torná-la um lugar melhor para todos?”

Respondi de imediato o que me veio à cabeça. Falei sobre como imaginava que poderíamos ter uma escola que fizesse sentido para todos — profissionais, pais e alunos. Mas, depois da conversa, enquanto eu já iniciava o tão esperado processo de descompressão e me preparava para curtir o fim de semana, as palavras dela continuaram a ecoar na minha mente. Foi aí que me ocorreu a ideia de escrever sobre o assunto. Talvez, pensei, colocar tudo no papel ajudasse a lançar alguma luz sobre os problemas que ela havia mencionado.

Comecei a refletir sobre a visão redentora proposta por Eric Voegelin em sua obra A Nova Ciência Política. Voegelin argumenta que certos movimentos ideológicos modernos — e, no caso do Brasil, a própria educação — estão sustentados por essa crença utópica de que as instituições, como a escola, podem ser a solução para os males da sociedade. Um exemplo claro disso é a ideia, bastante propagada por movimentos de esquerda, de que todo aluno está na escola para aprender. Claro que isso não é verdade — e isso é tema para outra discussão. A visão redentora acredita que a escola tem a missão de ser um lugar ideal, onde o bem floresce, e de onde os alunos sairão melhores do que entraram. Um grande engano. Voegelin nos lembra que a perfeição, ou o ideal de um mundo melhor, não pode ser alcançada através de reformas políticas ou mudanças estruturais nas instituições, sem levar em conta as limitações naturais e espirituais da condição humana.

Voltando à conversa que me fez refletir, a colega reclamou dos alunos, dos colegas, da ineficiência da equipe gestora… Eu compreendo que a catarse, às vezes, é necessária para que possamos ganhar fôlego e continuar. Mas é justamente aí que entra a questão da visão redentora: o problema não está sempre no outro, está em nós. Enquanto não tomarmos consciência de que cada um de nós tem um papel fundamental nas instituições e na sociedade, será em vão esperar que as coisas melhorem. Infelizmente, esse pensamento não é amplamente difundido no Brasil. O paternalismo estatal permeia a nossa cultura, estamos sempre esperando que o “outro” resolva, enquanto permanecemos inertes diante dos desafios.

A escola não existe para criar uma sociedade perfeita, mas para ensinar os jovens a entender partes muito específicas do mundo — seja a matemática, a geografia, a biologia, entre outras disciplinas. E aí reside o problema: a escola se tornou uma espécie de instituição redentora, onde se espera que todos os problemas sociais sejam resolvidos.

Esse é o ponto crucial da ideologia que afeta nossas escolas. As legislações, muitas vezes impostas por órgãos centrais, buscam facilitar a vida do aluno, independentemente do que ele realmente queira fazer na escola. E é justamente nesse ponto que muitos professores que atuam nas escolas públicas se perdem, pois lidar com a frustração de alunos desinteressados sempre fez parte da dialética entre professor e aluno. Platão, há cerca de 2.500 anos, já se queixava dos alunos, afirmando que não deveríamos debater com aqueles que não querem ouvir.

Depois de refletir e escrever sobre o assunto, finalmente consegui iniciar meu tão aguardado fim de semana. Porém, uma verdade ficou em minha mente: só aprende algo quem quer aprender. E, por mais que a frustração exista, também há aqueles alunos e professores que fazem da escola um lugar melhor para todos. Penso, por exemplo, na colega que, apesar das dificuldades, se dedica de corpo e alma às suas funções, e em tantos outros que, mesmo em meio aos desafios, continuam de cabeça erguida, prontos para ensinar aqueles que estão dispostos a aprender.