Nossa Senhora de Guadalupe de Cáceres na Espanha é uma das mais antigas e veneradas manifestações marianas reconhecidas pela Igreja Católica. A aparição ocorreu em 1326, na vila de Guadalupe, região de Cáceres, Espanha, e marcou o início de uma devoção profunda, ligada a uma imagem milagrosamente preservada e a uma forte tradição espiritual que atravessou séculos e oceanos. Este artigo conta a história da aparição ao pastor Gil Cordero, a descoberta da imagem e o desenvolvimento do santuário espanhol que inspirou, mais tarde, a devoção mexicana.
A origem da devoção à Nossa Senhora de Guadalupe de Cáceres
A tradição registra que, em 1326, nos arredores da vila de Guadalupe, na região de Cáceres, Espanha, um simples vaqueiro chamado Gil Cordero viveu uma experiência extraordinária. Enquanto buscava uma vaca desaparecida no meio da floresta, teve uma visão de uma Senhora luminosa, que apareceu-lhe cercada por uma luz celestial.
A mensagem da Virgem Maria ao vaqueiro
A Nossa Senhora de Guadalupe de Cáceres indicou um local específico onde Gil deveria escavar, prometendo-lhe que ali encontraria um tesouro. Ela também lhe pediu que, naquele local, fosse construída uma capela em sua honra.
Após relatar o ocorrido às autoridades locais, Gil conseguiu convencê-las a realizar escavações no local indicado. Para espanto de todos, descobriram uma gruta subterrânea contendo uma antiga imagem da Virgem Maria, bem como documentos históricos que explicavam sua origem.
A história da imagem encontrada em Cáceres
Os manuscritos descobertos junto à imagem revelaram que ela havia sido enviada em 580 d.C. por São Gregório Magno, Papa da Igreja, ao bispo São Leandro de Sevilha, importante figura da Igreja visigótica. Quando os mouros invadiram a Península Ibérica em 711, a imagem foi escondida para protegê-la da destruição.
No entanto, os fiéis que a esconderam morreram durante a invasão, e a estátua permaneceu perdida por mais de 600 anos, até sua redescoberta em 1326.
Apesar do longo tempo oculta, a imagem — talhada em madeira oriental não tratada — foi encontrada em estado perfeito, o que foi interpretado como sinal da proteção divina e da importância da Nossa Senhora de Guadalupe da Espanha.
O nascimento do santuário de Nossa Senhora de Guadalupe de Cáceres
Inicialmente, uma simples construção foi feita para proteger a imagem. Contudo, diante da devoção crescente, o rei Afonso XI de Castela ordenou a construção de um santuário monumental. A imagem passou a ser chamada de Nossa Senhora de Guadalupe da Espanha, em homenagem à vila próxima ao local da descoberta.
Em 1340, quatorze anos após a aparição, o rei fez uma visita solene ao santuário, reconhecendo oficialmente o caráter sagrado da imagem. Isso impulsionou a devoção em todo o território espanhol.
Roupas, joias e a veneração à Virgem de Cáceres
Nobres mulheres e famílias reais passaram a visitar o santuário e a oferecer mantos bordados, joias e adornos em homenagem à Virgem. As doações foram tantas que foi criada uma sala especial, o Gabinete das Relíquias, para guardar esses presentes. Entre eles, destaca-se um toucado de pedras preciosas, usado em solenidades dedicadas à Nossa Senhora de Guadalupe de Cáceres.
A imagem representa a Virgem Maria com pele escura, segurando o Menino Jesus na mão esquerda e um cetro real na mão direita, simbolizando sua realeza materna e espiritual.
Cristóvão Colombo e a devoção à Nossa Senhora de Guadalupe de Cáceres Espanha
A devoção à Nossa Senhora de Guadalupe da Espanha alcançou os navegadores e missionários que partiram rumo ao Novo Mundo. Antes de sua primeira viagem às Américas, Cristóvão Colombo orou diante da imagem no santuário de Cáceres. Ele também levou uma réplica da imagem consigo como sinal de proteção.
Após descobrir a ilha de Karukera, em 4 de novembro de 1493, Colombo decidiu batizá-la com o nome de Guadalupe, em homenagem à Virgem espanhola. A devoção atravessava assim o oceano, semeando raízes no continente americano.
Relação entre Guadalupe da Espanha e Guadalupe do México
Em 1531, no México, um indígena chamado Juan Diego teve aparições de Nossa Senhora na colina do Tepeyac. A imagem milagrosa estampada em sua tilma seria mais tarde chamada de Nossa Senhora de Guadalupe do México.
Segundo estudiosos, o nome original em náuatle era Te Quatlasupe, significando “aquela que esmaga a serpente de pedra”. O bispo Juan de Zumárraga, originário da Espanha e conhecedor do santuário de Cáceres, entendeu o nome como sendo Guadalupe, associando imediatamente a aparição mexicana à já venerada Nossa Senhora de Guadalupe da Espanha.
Assim, surgiu uma ligação providencial entre as duas manifestações, unidas pelo mesmo nome, embora por caminhos distintos.
O santuário de Guadalupe em Cáceres hoje
Atualmente, a imagem original da Nossa Senhora de Guadalupe da Espanha está entronizada no Camarim do Real Mosteiro de Santa Maria de Guadalupe, em Cáceres. O local, que possui estrutura fortificada, acolhe devotos do mundo inteiro. A imagem repousa sobre um trono de esmalte moderno, confeccionado em 1953, mantendo sua majestade intacta diante dos séculos.
O santuário é um centro de peregrinação contínua, especialmente nos dias 6 de setembro e 8 de setembro, datas dedicadas à padroeira da Extremadura espanhola.
Conclusão: O legado de Nossa Senhora de Guadalupe da Espanha
Dessa forma, a história da Nossa Senhora de Guadalupe da Espanha, surgida em Cáceres no ano de 1326, é um testemunho poderoso da presença materna de Maria na história da fé cristã. Reconhecida oficialmente pela Igreja Católica, sua imagem permanece um sinal vivo de proteção, realeza e intercessão divina.
Por fim, mais do que um antecedente à devoção mexicana, a Guadalupe espanhola é uma manifestação própria e profunda da ação de Deus por meio da Virgem Maria, que continua a tocar os corações de seus filhos — na Europa, nas Américas e no mundo inteiro.
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